Mas Apeles, da ilha de Cós, que foi na enésima centésima duodécima Olimpíada (o qual venceu todos os que foram antes dele, e todos os que depois dele foram. e que mais coisa achou ele só que quase os outros todos, escreveu volumes da arte da pintura que ensinavam aquela doutrina) teve grandíssima graça e saber. (…)
Foi tão privado de Alexandre Magno, que mandou por édito que nenhum outro o tirasse pelo natural. E muitas vezes do que ele alcançava sobre a pintura, Apeles com aprazível maneira lhe dizia que se calasse Sua Alteza, porque os moços que moíam as cores zombavam do que ele dizia. Tanta foi a autoridade que Apeles pintor teve com Alexandre, rei tão apaixonado, e que não sofria nada a ninguém! E Alexandre o honrava (isto são palavras de Plínio).
(…)
O Divo Augusto teve da sua mão aquela tábua de Vénus, a qual saía do mar, chamada Anadiómene, a qual obra foi tão louvada em versos gregos, que ficou vencida; mas todavia, ilustrada por fama, não se achou nunca quem acabasse aquela imagem na parte de baixo; mas a tal perda veio em mais glória do que a fez.»
Francisco de Holanda, Da Pintura Antiga (1548), Imprensa Nacional Casa da Moeda,1983