As anamorfoses cunjugavam a curiosidade técnica com a poética da abstracção e o mecanismo da ilusão de óptica.
Estas imagens decompostas por articulações dos raios visuais expandem-se desde o século XVI e vão ter no século XVII recolhas exaustivas.
Do ponto de vista da estética, fazem parte da arte-ficção, no sentido em que Platão definiu os dois tipos de arte: a da cópia que reproduz com exactidão as formas e a evocação que reproduz as de ficção, aquelas mais falsas que não fazem parte do âmbito da natureza- a “fantasmagoria”.
No Renascimento as teorias da perspectiva que serviam para fixar as dimensões e disposições exactas das formas no espaço, têm também, como reverso, um novo campo de ilusão a expolorar e a recriar, aliando a razão com o mecanismo visionário.
Daniel del Barbalr, patriarca de Aquieia e comentador de Vitrúvio, dá instruções na Pratica della Perspectica (1599) para se criarem anamorfoses:
“1ª fase- Compor a imagem de tal modo como deve ser percebida: pega num paple sobre o qual pintas uma ou duas cabeças humanas ou outras coisas segundo o teu desejo e pontilha-as com furos grossos.
2ª fase- deformação- Pega num quadro, sobre o qual queres representar as cabeças e fixa o papel dos dois lados, no ângulo direito, como se o quadro fosse uma superfície e o papel outra […]Os raios de sol ou de uma lanterna projectados através dos buracos descreverão sobre o quadro as ditas cabeças que ficam alongadas ou encurtadas, de modo que vendo-as não parecerão cabeças mas linhas direitas e curvas, sem qualquer regularidade. Mas, vistas do local de onde vêm os raios de luz, as cabeças dão-se a ver tal como estão no papel […]Pode-se fazer as mesmas coisas sem a luz solar, sem uma lanterna e sem papel perfurado, usando apenas réguas e instrumentos, acerca dos quais falaremos na última parte”
ver: Jurgis Baltrusaitis, Anamorphoses: Les Perspectives Depravees-II, Flammarion, Paris, 1996.
Erhard Schön (1535)