Abriram contra mim suas bocas, como um leão que despedaça e que ruge.
14 Como água me derramei, e todos os meus ossos se desconjuntaram; o meu coração é como cera, derreteu-se no meio das minhas entranhas.
15 A minha força se secou como um caco, e a língua se me pega ao paladar; e me puseste no pó da morte.
16 Pois me rodearam cães; o ajuntamento de malfeitores me cercou, trespassaram-me as mãos e os pés.
17 Poderia contar todos os meus ossos; eles vêem e me contemplam.
18 Repartem entre si as minhas vestes, e lançam sortes sobre a minha roupa.
19 Mas tu, SENHOR, não te alongues de mim. Força minha, apressa-te em socorrer-me.
20 Livra a minha alma da espada, e a minha predilecta da força do cão. (Salmo 22)
Pregação aos sarracenos cinocéfalos
Nas biografias medievas ocidentais, Maomé era descrito como um cristão herético; um cardeal romano ressabiado por não ter sido eleito Papa.
Numa versão castelhana do início do século IX, contava-se que negara a divindade de Cristo, acabando por morrer bêbado, devorado por cães e porcos numa pocilga.
The Kiev Psalter Saltério datado de 1397,com 300 iluminuras- Biblioteca Pública de Leningrado (fol 28 r.)
cercado por cães
Cristo rodeado pelos soldados com cabeças de cão. O texto acrescenta “quatro soldados me rodearam me, o ajuntamento dos malfeitores me cercou. Trespassaram-me as mãos e os pés.
Livra a minha alma da espada, e a minha amada da força do cão”- recordando a belíssima premonição do Salmo de David- “Circundederunt me canes multi; concilium malignatium obsedit me”
O tema é semelhante ao do saltério Chludov (meados séc. IX) onde os romanos também aparecem como cinocéfalos.
Na tradição do Pentecostes era comum aparecerem cinocéfalos- raças fantásticas que se acreditava existirem para os lados da Síria. Nesse caso pretendia-se valorar a os apóstolos que pregaram o Evangelho, até às raças mais distantes.
Nestes exemplos, o sentido negativo prevalece- mostrando hereges e pagãos romanos bestializados como cães.